Encostada a um posto de electricidade, o "do costume", a escrever histórias para crianças que me são ditadas. Muito carro parou hoje! Um cliente mais afoito, bem parecido, aí com uns 30 anos, fala directamente para mim: "como se chama a menina?" hahahahah a rua está sempre a surpreender-me! Aceno que "não".
Muitas conversas e umas horas depois, encontro a Rosa. É romena, não fala português, mas percebe o que quero. Começa a chamar a colega? "Oh Cris, oh Cris anda cá! para interprete". Não é a Cris, é o Cris, que está metido no carro estacionado mesmo em frente. Oh diacho, um chulo por interprete? "Não, ele protege, mas dorme". Realmente nem se mexe. Ok, passo umas horas mais tarde. E passo, mas já lá não estão.
Mais abaixo, numa esquina, aguardo uma transgender zangada (não comigo) que me pede para esperar, enquanto negoceia com um cliente. Fico sozinha portanto na esquina: olha a minha sina! Pára muito carro, um deles com um avó simpático lá dentro. Mais um "não" acompanhado já por um "Porra! Não!!!" mental.
Do outro lado da estrada, do lado do Parque Eduardo VII, mesmo em frente ao hotel, no escuro, um homem sentado que, de longe (bem longe) me acena olá com a mão. Eu fico só especada a ver quem é e o que está ali a fazer tão sossegado e meio escondido. Mas regresso à postura de "nem te estou a ver" quando o corropio de carros recomeça.
E quando volto ao carro, percorro cada esquina, para desejar boa noite a todas.
Já dentro do carro, uma ainda me diz: "ena! ainda aqui está?!" é. desta vez vim quase com elas para casa.
Mas de repente vejo: conheço quase todas as caras, quase todos os nomes, e algumas a despedida é mesmo com um abraço. A proximidade faz-se assim, devagarinho, conquistando confiança q.b. Aquela rua hoje era tão minha quanto delas.