Estou metida em mais um projecto de rua: o PREVIH, uma parceria entre várias ONGs e ARS. Saímos de carrinha-laboratório. Fazemos inquéritos a trabalhadores do sexo, entregamos preservativos, e convidamo-los a fazer o teste rápido do HIV.
Hoje estivemos no Cais do Sodré e no Restelo.
Numa destas rondas, conheci a [chamemos-lhe] Jenny, 28 anos, nigeriana, mãe de 2 filhos que vivem com a avó, viajante nata - o discurso de quem adora viajar é facilmente perceptivel. Da Nigéria foi para Marrocos. Viveu 6 meses em Tânger. Depois fez a travessia. Esteve em Málaga. Um dos irmãos está em Itáila. Sugeriu-lhe que viesse para Portugal: "é barato, é seguro, é um país tranquilo". Portugal está bem cotado lá fora.
A Jenny está em Portugal há 2 anos, vive em Lisboa. O namorado vive na Holanda. De momento, "está bem assim". Gostava de ter mais filhos, mas será "com o pai dos meus filhos, que está na Nigéria. Ele adora-me, mas eu quis vir. Está sempre a pedir para voltar para casa. Está à minha espera. E um dia vou voltar sim".
A Jenny trabalha num café durante o dia e ocasionalmente vem para a rua prostituir-se. Os pais não sabem. É cristã. Diz-me que nem sequer fuma.
Para além do dinheiro que faz para si, para pagar renda e contas, comida e roupa, envia tudo o que pode para a terra natal: para ajudar a pagar contas e luxos, mas principalmente a educação dos seus filhos que estudam em colégios particulares.
Como estamos à espera do resultado do teste, e mesmo quando se sabe que se usa sempre o preservativo, os nervos atacam qualquer um - e não apenas trabalhadores do sexo, longe disso! - trocamos dicas de viagens. A mim, a Jenny aconselha-me a ir visitar a Guiné Conakri, diz que é fantástico. Da África do Sul não gosta tanto. O pai vive lá. Diz-me para ter cuidado com a comida se um dia for ao Mali. E que a Nigéria é um mundo, também a visitar.
Mas para já a Jenny vai continuar por cá mesmo. Gosta de Lisboa, gosta da vida que tem aqui, mantém os objectivos que quer, entre os quais o dinheiro que faz e envia de 3 em 3 meses para a família. Só as saudades é que custam. Saudades da mãe, dos irmãos, mas principalmente dos filhos.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
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