segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

"A Osga: Chic por fora, Podre por dentro" Crónicas Figueira na Hora

Já imaginaram nascer no corpo errado? Não imagino pior pesadelo. Viver fora da normatividade é um pesadelo, alvo fácil de mentecaptas.

Desta vez é mesmo a Figueira da Foz que me serve de inspiração para a presente crónica. Vi na Figueira.TV um programa que (como é que eu hei-de dizer sem ser ofensiva?) me provocou vómitos agudos e instintos homicidas.
Trata-se da Figueira Chic: Convidada Ema Sofia (1). A Ema é uma transsexual de enorme coragem que dá a cara e aceita ser entrevistada no dito programa, explicando a sua experiência. Diz a Ema que acha que “o mundo não é feito de homens e de mulheres, mas sim de pessoas”. Subscrevo a 1000%.

Acontece que uma das três entrevistadoras é anti-humana, assim estilo Hugo Soares, personagem-tipo à la Gil Vicente, bonita por fora e podre por dentro, uma tal de Olga (para mim uma Jane Doe total até à data e não sou mais feliz depois de a ter ouvido). Decide – imagine-se! – atacar a entrevistada e até as restantes entrevistadoras com frases como: “Tenho uma visão muito pessoal sobre a opção” de ser homossexual; “A natureza humana é um homem e uma mulher”; “Todos os desvios dessa natureza são uma opção”; “A homossexualidade, a pedofilia são opções”; “A natureza é só uma: um macho nasce macho, uma fêmea nasce fêmea”; “Vou tentar ajudá-lo a encontrar o caminho certo” (a um imaginário filho homossexual, espero eu, que nem tod@s devem procriar); “A tua opção [de se tornar transsexual] foi Egoísmo.

É-lhe extraordinária a podridão reaccionária, a estupidez ofensiva, camuflada de esperteza e maquilhagem. Como é que dão tempo de antena a uma personagem da idade média? É por causa da carinha laroca?! Sinto-me profundamente ofendida com o nojo que lhe saiu da boca.

Termino com os meus sinceros parabéns à Ema e às outras duas entrevistadoras, verdadeiramente humanas, inteligentes e claramente pessoas do séc. XXI.


Link: 

https://www.facebook.com/notes/figueira-na-hora/a-opini%C3%A3o-com-filipa-alvim-a-osga-chic-por-fora-podre-por-dentro/402796049864790

e

http://outramargem-visor.blogspot.pt/2014/02/miseria-chic-ii.html







sábado, 22 de fevereiro de 2014

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

"Vender Direitos Humanos" Crónicas Figueira na Hora, 10.02.2014

Os Direitos Humanos são hoje uma pedra basilar da civilização. A cultura humana, com alguns milhares de anos, assim evoluiu.
São Universais? Não. Consta até, segundo fonte bestial (em entendido, de Besta mesmo), que direitos fundamentais são afinal referendáveis. A humanidade tem destas coisas: brilhantismo misturado com estupidez crónica. Eis a nossa história numa frase.
A discrepância entre territórios, cidades e aldeias, litoral e interior, sul e norte, é brutal. Não somos todos iguais. Estamos muito longe de o sermos.
Os Direitos Humanos fomentam-se e concretizam-se no terreno, no trabalho de campo, no contacto face to face, na conversação personalizada, na relação com o próximo. Objetivo: angariação de heróis e heroínas aqui, que ajudem o próximo, que muitas vezes está longe.

Com plena simpatia por esta ideia, e em situação de desemprego, a Maria (nome fictício) animou-se com um anúncio de emprego que pedia Relações Públicas (RP) para campanhas de solidariedade em nome de uma das maiores organizações mundiais e de trabalho reconhecido. A empresa subcontratada pela ONG internacional pedia dinamismo e vontade de ajudar o próximo, através do contacto com o próximo. A Maria lá foi à entrevista e “dia de experiência” toda entusiasmada.

Afinal, era trabalho porta-a-porta. O discurso começava com a apresentação do projeto: ajudar as crianças da Síria. São 5 milhões de crianças em risco de morte já. Uma causa que deve ser acarinhada. “Não se assuste, não é um peditório”. Mas afinal é. É que cada RP trabalha a 100% à comissão, com horário laboral das 10:30h-20:30h de 2ª-feira a 6ª-feira e das 10:30-18:30h aos sábados. Estes RPs são dinâmicos, vestem mesmo a camisola, não lhes retiro qualquer valor. Mas o país está em crise. Como é possível querer vender Direitos Humanos, puxando à lágrima de quem abre a porta para nos ouvir ao menos, quando se sabe que está desempregada e pouco resta para pôr comida na mesa? Ajudar, todos queremos. Mas a maioria não tem hipótese.

Vender Direitos Humanos a quem não pode comprar pão é contraproducente. “Empregar, a 100% à comissão” estes trabalhadores dos direitos humanos revela escravatura, a palavra-chave para compreender os nossos dias.

Filipa Alvim

Link:

https://www.facebook.com/notes/figueira-na-hora/a-opini%C3%A3o-com-filipa-alvim-vender-direitos-humanos/395202730624122

domingo, 9 de fevereiro de 2014

"Tráfico, Sexo e Imigração" Crónicas Figueira na Hora, 27.01.2014

"Tráfico, Sexo e Imigração" in Crónicas Figueira na Hora, 27.01.2014

Tráfico, Sexo e Imigração

Estive nos últimos quatro anos a estudar a questão do tráfico humano, trabalho sexual e imigração. É esse o tema que proponho para esta crónica. Perdoe-me o leitor a seriedade do assunto. O fenómeno do tráfico é um fenómeno transnacional, que tem que ver com as relações entre diferentes regiões económicas do mundo: as condições que possibilitam o TSH estão relacionadas com as disparidades económicas que caracterizam a geografia atual.

Até 2007, o conceito legal de tráfico de seres humanos em Portugal restringia-se ao tráfico de mulheres para exploração sexual. Com a revisão do Código Penal português, no final desse ano, o conceito alargou para, de acordo com o Protocolo de Palermo (2000) da ONU, integrar o tráfico de mulheres, homens e crianças, para fins de exploração sexual e laboral e tráfico de órgãos.

A ligação entre TSH e prostituição mantém-se no nosso imaginário, apesar do conceito ser muito mais que isso. As posições face a essa ligação diferem entre os que consideram que em nome do combate ao tráfico, o que na realidade se está a combater é a livre circulação de pessoas e a atividade voluntária na indústria do sexo, e os que consideram que todos os migrantes e todas as trabalhadoras do sexo (fundamentalmente estrangeiras) são vítimas do poder patriarcal, da globalização e da total ausência da capacidade de “agência” – por outras palavras, «não existem prostitutas felizes», pois o corpo não lhes pertence e está absolutamente sujeito à vontade do proxeneta e do desejo do cliente.

O problema do tráfico de seres humanos é quer uma causa quer uma consequência da violação de direitos humanos: é uma causa porque viola direitos fundamentais tais como o direito à vida, à dignidade e à segurança, às condições de trabalho condignas, à saúde. Mas é também uma consequência enraizada na pobreza, na desigualdade e na discriminação.
Tal como somos informados diariamente, o TSH é um dos maiores crimes transnacionais dos nossos tempos, com milhões de pessoas traficadas, e biliões de dólares de lucro.

Mas se as políticas dos Estados visam realmente enfrentar o problema do tráfico, então têm de ir além da criminalização. A injustiça é também produzida através de instituições, estruturas sociais, sistemas de poder e classificações morais. Só através da integração das populações vulneráveis no seio das quais se encontram as potenciais vítimas de tráfico (trabalhadores do sexo e imigrantes ilegais) é possível combater o TSH. A cidadania é a chave para um mundo melhor.

Filipa Alvim

Link: