"Uma história nunca é completamente contada. Não há um princípio, meio e fim. E as pessoas não contam assim a sua história, muito menos quando ela é complicada e tem implicações. Por isso, há pequenos fragmentos que vão sendo desabafados. E que muitas vezes podem ser reformulados, quando são contados numa vez seguinte. Podem não coincidir com a primeira versão".
Este é um excerto entrevista a uma ONG, que presta apoio a prostitutas de rua, 50% portuguesas e 50% imigrantes. A pergunta era concretamente sobre as nigerianas. Se coloco aqui este apontamento, é porque sinto, na esmagadora maioria dos casos (para não dizer todos), exactamente o mesmo.
Mas como é que elas podem confiar em mim, se eu própria sinto uma certa desconfiança nas histórias que me contam: posições demasiado fervorosas a favor da regulamentação da prostituição, mas o medo absoluto em "dar a cara para a causa" e a frase ritual "estou farta disto! quero sair desta vida" ou "se pudesse saia daqui"; ou uma mulher que está com o grupo das nigerianas, fala pidgin, e diz-me que veio da Jamaica para Portugal "por acaso"... As histórias dos percursos das pessoas são vividas, construídas, contadas e partilhadas como se fossem lego.
quinta-feira, 31 de março de 2011
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2 comentários:
Mas o lego também constrói coisas, e neste caso pode construir as histórias que tanto queres ouvir... ouve e vê, querida filipa, ouve e vê!
Bem o faço, mas de vez em quando fico baralhada com as contradições...este processo também é uma história, a minha, e também ela é uma espécie de lego ;)
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