sexta-feira, 29 de julho de 2011

Em caso de dúvida: Falar!

"Acolhemos até à data seis menores. Esta ideia de que são muito jovens de facto, sobretudo quando estamos a falar da exploração sexual, é uma realidade" - diz fonte de ONG que acolhe vítimas de tráfico humano.

Lá que se veja o comércio do sexo como isso mesmo - um serviço, um comércio - não significa que não me passe com a confirmação de que há clientes que vão com menores, que não sintam o quanto a pedofilia é crime, e que em caso de suspeita não tentem conversar com elas ou ligar directamente para o 112.

Porque, sinceramente, é isso que se faz: e se não se quer ligar para a polícia [mesmo podendo fazer queixa anónima], então liga-se para a Equipa Multidiscplinar contra o tráfico de seres humanos: 964 608 288. Ou para a Linha S.O.S Imigrante: 808 257 257.

Porque em caso de dúvida, se não se quer denunciar, é imprescíndivel pelo menos Falar!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

primeira ronda pós trabalho de campo

Acabo de fazer a minha primeira ronda colectiva pós dar por terminado o trabalho de campo. Foi bom, descontraído. É sempre, já.
Para começar, e para não variar, cheguei ao ponto de encontro bem mais cedo que a hora combinada. Já é um ritual. Antes de chegar ao RedLight, passo pela Manela e pela "Fátima" [nomes fictícios, evidentemente], para trocar novidades.
No sítio do costume, sentada no seu caixote, está a Manuela. Bem!! O caminho que fizemos desde o primeiro encontro até agora:
- Olá!!! Tá boa?! - uai, a festa que é. Sabe bem.
- Então Manela! Tudo bem? Novidades?
- Ah. Nada de novo. Mataram um gajo ali no café.
Esbugalho os olhos.
- Pois é - continua - um casal a discutir, um que se mete, leva com o "entre marido e mulher", vem para a porta fumar um cigarro e cerveja na mão. Quando o outro passa, corta-lhe a garganta. Ainda chamámos o INEM, mas já não havia nada a fazer. Morreu. O outro anda aí. Agora só vou para a casa [que fica por ali] quando o meu marido me telefonar. Chego e ele está à janela [o seu protector. as pessoas são estranhas. a Manela adora o homem, que vive com o dinheiro que ela faz na prostituição].
Nisto chega a "Fátima": "Hey!!" O abraço. "I havent seen you? Everything´s good?" - pergunta-me. Adoro a "Fátima". Só fala inglês. A Manela não fala inglês. Ficam ambas encostadas à parede, viradas para mim em triangulo. Uns 3 metros uma da outra. Mas fiz de ponte, ainda nos rimos.
Liga o marido da Manela - já volto [isso, vai para casa descansar. foi a primeira mulher que entrevistei na rua, tenho-a por especial].
Estas duas já são ritual. Em trabalho ou não, passo e páro. Quero saber delas. A "Fátima" vai fazer uma praça fora do país. Já lá esteve. "If you have papers it´s ok". Depois volta. Sinceramente? Ainda bem. Aqui está melhor. Penso eu.
Está na hora da ronda. A "Fátima" fica ali, eu sigo para o ponto de encontro. Mais tarde volto a encontra-la, mas é só "here´s condoms".
A noite estava fraca. Sentimos isso. Mesmo assim, contei 28 mulheres.
Entre as frases da noite, registei:
- Chulo? O meu filho é o meu chulo, mais ninguém, nunca. Queres falar com o meu chulo? Amanhã, mas mais cedo - que a esta hora já está a dormir.
- As putas vão. As prostitutas ficam encostadas à parede e escolhem-nos. Pensam que mandam? Não.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

queria ver como era um bar de alterne

Bares de alterne. Casas de passe. Bares de meninas. Casas de putas. Estas expressões têm-me acompanhado desde que iniciei a pesquisa sobre tráfico de pessoas/prostituição/trabalho sexual.
Mas com as dificuldades inerentes, diria mesmo handicaps, relacionadas com género, pensei não ser muito possível. Afinal tenho esta falha, que é ter nascido mulher. Uma mulher, que não frequente o ramo, é estranha.
E claro que quando nunca se conheceu os sítios, desconhece-se os códigos. Os códigos são tudo: desde a postura com que se está, à expressão, à linguagem, os comportamentos e apropriação do espaço.

Passei o dia inquieta, a pensar - veja-se bem! - na roupa que ia vestir! Tremenda futilidade, não é? Mas será mesmo? Quando se está a pensar: como entrar, não ser barrada, sóbria para não haver dúvidas nem competições ou sentimentos de arrogância. E discreta para não ser incomodada. Lamento. Não gosto de ser incomodada.

Claro que seria tranquilo. Ia com um colega, homem, ainda por cima GNR.
De qualquer modo, o desconhecido é sempre assustador. Um assustador bom. O coração dispara. Pára-se de respirar e salta-se para o abismo.

Optei por uma camisa preta de manga curta, calças de ganga, botas pretas. Mais simples impossível.

E lá fomos. Para a zona de Sintra. E quando chegamos a Sintra, para onde é que vamos? Para o posto da GNR.
Subimos as escadas, estão 3 GNRs à porta.
- Boa noite. Queremos saber que casas de alterne conhecem nesta zona?
Reacção imeadiata dos 3: passar os olhos do Luís para mim! (absolutamente: "wtf!" muito divertido!)
Identificamo-nos. A expressão deles muda para: "Ah. Assim faz sentido".
Chamam um colega. Só se vai fardar, já vem falar connosco.
- Há um mais duro, mas não aconselho a irem lá.
Pergunta óbvia: porquê?
Faz sinal para chegarmos para o lado: está sob investigação.
("Perfeito! É mesmo isto!" - pensamos os dois). Indica mais dois, mais próximos de Sintra, da vila bem entendido.
- Vamos à vossa frente.
(O quê? A polícia vai a indicar o caminho?!? Mas assim somos logo topados). "Não, combinamos um sinal. Quando chegarmos, metam os quatro piscas".
- Além disso, não há como enganar. As casa têm todas uma luz vermelha à porta.

E lá vamos: um carro de patrulha da GNR e nós atrás.

Em 3, entrámos em 2 (os mais sossegados. 1 deles estava fechado). Fora a reacção inicial, quando nos abriram a porta (olhos postos em mim, óbvio), nada de muito extraordinário. Bares de bairro, onde toda a gente se conhece. Eramos aliás os únicos estranhos. "Pensam de certeza que somos da polícia".
É preciso dizer que o Luís faz vista, portanto ainda apanhei um grupo das mulheres - maioritariamente brasileiras de facto - a olhar para mim de lado (o único jeitoso acompanhado, "já vi que dali não vem nada").
Fora isso, tudo tranquilo e ainda nos ofereceram um rebuçado a cada um ao fim da noite. "Deve ser para adoçar".

Estive em bares normais. Sem reservados. Meia luz. Música afro e brasileira. Com mulheres menos vestidas que eu (aliás, a primeira sensação que tive quando entrei no primeiro foi precisamente: estou demasiado vestida). Com pouquíssimos clientes. A noite está fraca. E tudo "em casa", toda a gente se conhece, toda a gente se cumprimenta.
E confere que as pessoas vão aos bares para tomarem mesmo um copo, estar na conversa, porventura uns beijinhos nas mesas mais escuras e uns passsos de dança. Em suma, o que vi desmistificou muito a imagem pré concebida que tinha.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Invisibilidade Trans

SPOT SOBRE VISIBILIDAD TRANS (2011) from Irlanda Tambascio on Vimeo.

1. Ideias e fontes e histórias

Cruzar ditos, que são ideias, de fontes diferentes. Coisas que são ditas acerca dum tema, atendendo a todo o conteúdo: quem o diz, como diz, que postura corporal assume ao dizer. Onde ocorre a cena. E depois, se houver forma de obter mais informação e opinião acerca do tema e da fonte, construir a história.

DEBTOCRACY

Debtocracy, o verdadeiro sistema em que vivemos...Já era tempo de se inventar qualquer coisa melhor. as ideias existem. basta pô-las em prática. será tão dificil?

ou será que tal jamais será possível enquanto alguns senhores do mundo, ou senhores da guerra, como preferirem, não forem abatidos?

Porque raio é que havemos tod@s de viver sob a "divída", enquanto de facto uns engordam e a maioria emagrece?

Ou será que estamos verdadeiramente a viver o colapso do capitalismo?

"For the first time in Greece a documentary produced by the audience. "Debtocracy" seeks the causes of the debt crisis and proposes solutions, hidden by the government and the dominant media".

Um filme a ver: http://www.youtube.com/watch?v=qKpxPo-lInk

domingo, 10 de julho de 2011

cultura

"sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro" (Albert Camus).

Independente

O primeiro bebé a nascer na República do Sudão do Sul chama-se Independente.

http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/article697703.ece

domingo, 3 de julho de 2011

anonimato

"Por favor, por favor, não diga quem eu sou! Retiram-me os meus filhos se sabem que ando nesta vida...!"

indiferenças

Não sei bem o que doi mais: se a indiferença, se a sua ausência.

Alguém me dizia há uns dias: "se alguém cair na rua agora, haverá alguém que ajude?" Provavelmente não.
São poucas as pessoas capazes de ver em volta, para além do seu próprio "espaço vital", passo a expressão, para olhar olhos nos olhos o próximo.
Só pode ser essa a causa da opção de não ajudar alguém que cai à nossa frente; de não parar e ver que ali mesmo estão prostitutas, algumas mal tratadas; de não dar qualquer coisa a comer a alguém que o pede; de não intervir quando se assiste a uma agressão, seja em espaço público ou indoor.

Alguém me dizia há uns meses: "quando atingirmos a indiferença, atingimos o nosso objectivo". A indiferença à diferença, o direito a ser diferente, era esse o teor da conversa.
É curioso como, por exemplo, o movimento homosexual atingiu alguns objectivos, e o direito a alguns direitos que lhes estavam vedados (o direito à igualdade - finalmente expresso pela ONU este ano - e ao casamento, aqui por Portugal, no último ano). Mas por mais leis que passem [e ainda bem que passam, é só assim que os direitos humanos vão crescendo], os gays e as lésbicas continuam a não usufruir da ausência de indiferença.
E nem sequer falo do movimento LGBT, aos transexuais continuam e vão continuar a estar barrados simbolica e concretamente uma série de direitos fundametais, sintetizados num só: todos nascem iguais. A maioria das pessoas não pensa de facto assim.

Todos nascem livres e iguais, mas "não ocupem o meu espaço", "isso passa-se lá longe", "não me incomodem", "odeio paneleiros", "eu não tenha a ver com isso", "é melhor não me meter", "não me diz respeito".

Ingrid Vergara - Defensora de Direitos Humanos em risco

"Ingrid Vergara é a porta-voz do MOVICE - Movimiento Nacional de Víctimas de Crímenes del Estado, uma organização que luta pela justiça para os milhares de vítimas de raptos, execuções e outras violações dos direitos humanos no norte da Colômbia. Por este trabalho, Ingrid Vergara e sua filha têm recebido constantes ameaças de morte por parte das forças paramilitares do seu país.

Para assinar a petição que exige que o governo colombiano julgue os responsáveis pelas ameaças, ataques e outras violações, garanta a protecção de Ingrid Vergara e a sua família e reconheça o MOVICE como um movimento essencial para bem do país":

http://www.amnistia-internacional.pt/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=40&sf_pid=a077000000Fc5koAAB

Filmmaker Sentenced to Six Years in Prison. Take Action.

"Jafar Panahi is an internationally celebrated film director who won the coveted "Golden Lion" prize at the Venice Film Festival for his 2000 film Dayareh ("Circle").
Panahi has been sentenced to six years in prison plus a twenty-year ban on all his artistic activities—including film making, writing scripts, traveling abroad and speaking with media.

Panahi was convicted of "propaganda against the state" for having exercised his right to peaceful freedom of expression through his film-making and political activism. He was specifically accused of making an anti-government film without permission and inciting opposition protests after the disputed 2009 presidential election. Panahi's artistic collaborator, Mohammad Rasoulof, was also sentenced to six years in prison. Panahi is not currently in detention but could be forced to report to prison at any time".

http://www.amnestyusa.org/our-work/cases/iran-jafar-panahi

standing up for freedoom

http://www.youtube.com/watch?v=xUasBLC_ICI&feature=related

Shine a light on human rights

http://youtu.be/qXvKE_sHnu8