Bares de alterne. Casas de passe. Bares de meninas. Casas de putas. Estas expressões têm-me acompanhado desde que iniciei a pesquisa sobre tráfico de pessoas/prostituição/trabalho sexual.
Mas com as dificuldades inerentes, diria mesmo handicaps, relacionadas com género, pensei não ser muito possível. Afinal tenho esta falha, que é ter nascido mulher. Uma mulher, que não frequente o ramo, é estranha.
E claro que quando nunca se conheceu os sítios, desconhece-se os códigos. Os códigos são tudo: desde a postura com que se está, à expressão, à linguagem, os comportamentos e apropriação do espaço.
Passei o dia inquieta, a pensar - veja-se bem! - na roupa que ia vestir! Tremenda futilidade, não é? Mas será mesmo? Quando se está a pensar: como entrar, não ser barrada, sóbria para não haver dúvidas nem competições ou sentimentos de arrogância. E discreta para não ser incomodada. Lamento. Não gosto de ser incomodada.
Claro que seria tranquilo. Ia com um colega, homem, ainda por cima GNR.
De qualquer modo, o desconhecido é sempre assustador. Um assustador bom. O coração dispara. Pára-se de respirar e salta-se para o abismo.
Optei por uma camisa preta de manga curta, calças de ganga, botas pretas. Mais simples impossível.
E lá fomos. Para a zona de Sintra. E quando chegamos a Sintra, para onde é que vamos? Para o posto da GNR.
Subimos as escadas, estão 3 GNRs à porta.
- Boa noite. Queremos saber que casas de alterne conhecem nesta zona?
Reacção imeadiata dos 3: passar os olhos do Luís para mim! (absolutamente: "wtf!" muito divertido!)
Identificamo-nos. A expressão deles muda para: "Ah. Assim faz sentido".
Chamam um colega. Só se vai fardar, já vem falar connosco.
- Há um mais duro, mas não aconselho a irem lá.
Pergunta óbvia: porquê?
Faz sinal para chegarmos para o lado: está sob investigação.
("Perfeito! É mesmo isto!" - pensamos os dois). Indica mais dois, mais próximos de Sintra, da vila bem entendido.
- Vamos à vossa frente.
(O quê? A polícia vai a indicar o caminho?!? Mas assim somos logo topados). "Não, combinamos um sinal. Quando chegarmos, metam os quatro piscas".
- Além disso, não há como enganar. As casa têm todas uma luz vermelha à porta.
E lá vamos: um carro de patrulha da GNR e nós atrás.
Em 3, entrámos em 2 (os mais sossegados. 1 deles estava fechado). Fora a reacção inicial, quando nos abriram a porta (olhos postos em mim, óbvio), nada de muito extraordinário. Bares de bairro, onde toda a gente se conhece. Eramos aliás os únicos estranhos. "Pensam de certeza que somos da polícia".
É preciso dizer que o Luís faz vista, portanto ainda apanhei um grupo das mulheres - maioritariamente brasileiras de facto - a olhar para mim de lado (o único jeitoso acompanhado, "já vi que dali não vem nada").
Fora isso, tudo tranquilo e ainda nos ofereceram um rebuçado a cada um ao fim da noite. "Deve ser para adoçar".
Estive em bares normais. Sem reservados. Meia luz. Música afro e brasileira. Com mulheres menos vestidas que eu (aliás, a primeira sensação que tive quando entrei no primeiro foi precisamente: estou demasiado vestida). Com pouquíssimos clientes. A noite está fraca. E tudo "em casa", toda a gente se conhece, toda a gente se cumprimenta.
E confere que as pessoas vão aos bares para tomarem mesmo um copo, estar na conversa, porventura uns beijinhos nas mesas mais escuras e uns passsos de dança. Em suma, o que vi desmistificou muito a imagem pré concebida que tinha.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
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