Chego pelas 16h. À esquina do Largo com a Almirante Reis lá está a Charity. Passei na semana passada, até com a minha irmã, para a ir cumprimentar só. Hoje de novo cara alegre quando me vê, dois beijinhos, "hey! how are?".
Apetece-me um café. Pergunto-lhe se quer vir comigo ao café em frente.
- No thanks, i just had lunch.
Ok, vou eu e já venho. No café está tudo a olhar para mim. Sou a única mulher ali. 2 minutos depois já está outra companheira feminina.
Regresso para junto da Charity.
- Can i smoke a cigarrete here with you?
- yeah sure.
- how´s the business?
- ah, no good.
- yeah, everyone is complaining in the streets.
Estamos ali um bocado na conversa sobre nada. Também faz parte. O tempo, está sol, que bom calor. É pena não haver clientes.
Pergunto pela Jennifer e pela Joy. "They´r not here now, maybe latter". Combinamos que na proxima 4ª, passo ali para ver se quer vir comigo à reunião das Irmãs Oblatas para a organização do desfile d@s trabalhador@s do sexo. Reparo em 2 homens ali a
fazer grandes avanços. Bolas, é para mim?! Não quero afugentar a clientela, nem criar inimizades, está na hora de ir.
- Ok, Charity, i´m gonna work, see if someone wants to talk with me. I´ll pass here when i´m donne, see if you are there.
- Ok, thank you, see you latter.
No centro do Largo estão 4 africanas. Uma afastada, encostada a um banco, as outras 3, dois passos à frente. Começo a conversa com uma que interrompe logo a dizer que "não fala inglês, não fala português, não". As outras já estão a olhar
para mim. Repito-me com o ar mais simpático que consigo. Uma delas, a mais arísca, diz-me alto e bom som "I speak chinese!", em inglês! Eu rio-me. "Ok. see ya."
Pois é, desta vez já não correu tão bem. As trabalhadoras do sexo hoje já não estavam tão dispostas a conversar comigo.
Porquê não sei. Uma possibilidade é, como me diz a Leticia, "segundas-feiras são dias de rezinguice para a maioria das pessoas. Não vejo motivos para o Intendente fugir à regra. Não te chateies com isso :)".
Uma pontada de medo etnográfico?! Espero que para a próxima estejamos todas mais inspiradas...mas como diz o José Mapril, "a etnografia aprende-se fazendo". Nem sempre corre bem, nem sempre é motivador, nem sempre somos bem aceites. Mas nem por isso se desiste.
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